Essa seção discute os fundamentos e implicações
econômicas das estruturas industriais e das estratégias empresariais que
caracterizam o setor. Da
perspectiva econômica, a indústria de audiovisuais destaca-se, antes de mais
nada, por seu papel estratégico na disseminação de informações e, portanto, no
sistema de decisão da economia mundial. Além disso, essa indústria pode
representar fonte importante de geração de produto, emprego e renda. A indústria mundial de produtos audiovisuais possui uma
estrutura sui generis na qual conglomerados oligopolísticos na
distribuição, produção, financiamento dos investimentos e exibição , convivem
com um grande número de pequenas firmas operando em nichos específicos de
mercado.
A indústria organiza-se em três setores distintos e
interdependentes - produção, distribuição e exibição. A distribuição é o setor
crucial, não só por interligar os dois outros, mas porque, em termos
econômicos, o objetivo da indústria é produzir público ou audiência e não como
o senso comum sugere, filmes, vídeos ou programas de TV.
"A produção existe para atender à demanda criada pelos mecanismos distribuição" e não vice-versa.
O dinamismo tecnológico da indústria de audiovisuais é avassalador: as inovações nos processos de produção, distribuição e consumo de audiovisuais encontram-se, atualmente, no cerne das revoluções tecnológicas da eletrônica, informática e telecomunicação. Esse processo traz no seu bojo transformações culturais profundas para as mais diversas sociedades. Além disso, causa alterações substanciais nas condições de concorrência dos diversos segmentos da indústria e na competitividade dos diferentes países.
As respostas nacionais aos desafios propostos pelo dinamismo tecnológico da indústria audiovisual dependem, antes de mais nada, da capacidade criativa, adaptativa e de absorção da matriz cultural de cada país. Em termos econômicos, a capacidade de resposta depende da estrutura da indústria audiovisual no país - ou seja, da base tecnológica, organização empresarial, controle do mercado e competitividade internacional das empresas dessa indústria. Depende também das instituições de políticas cultural e industrial voltadas para a indústria audiovisual.
No caso brasileiro, não cabe dúvida sobre a força e originalidade de sua matriz cultural. Apesar disso, existem dramáticas diferenças nas oportunidades e possibilidades que se abrem para os vários segmentos da indústria de produtos audiovisuais. A televisão apresenta plenas condições artísticas, técnicas e econômicas de se posicionar na vanguarda mundial. No setor cinematográfico as dificuldades são particularmente agudas devido à dimensão dos desafios econômicos e às deficiências institucionais das políticas públicas para esse segmento.
Apesar da sua indiscutível importância do ponto de vista cultural e de sua longa história no país, o cinema brasileiro carateriza-se do ponto de vista econômico como um indústria artesanal e fragmentada, carente de bases comerciais sólidas e, sobretudo, incapaz de subsistir sem forte apoio governamental. A interrupção desse apoio, no início da década de 1990, levou o setor praticamente à falência. Com o retorno dos incentivos governamentais, houve um florescimento da atividade cinematográfica.
"A produção existe para atender à demanda criada pelos mecanismos distribuição" e não vice-versa.
O dinamismo tecnológico da indústria de audiovisuais é avassalador: as inovações nos processos de produção, distribuição e consumo de audiovisuais encontram-se, atualmente, no cerne das revoluções tecnológicas da eletrônica, informática e telecomunicação. Esse processo traz no seu bojo transformações culturais profundas para as mais diversas sociedades. Além disso, causa alterações substanciais nas condições de concorrência dos diversos segmentos da indústria e na competitividade dos diferentes países.
As respostas nacionais aos desafios propostos pelo dinamismo tecnológico da indústria audiovisual dependem, antes de mais nada, da capacidade criativa, adaptativa e de absorção da matriz cultural de cada país. Em termos econômicos, a capacidade de resposta depende da estrutura da indústria audiovisual no país - ou seja, da base tecnológica, organização empresarial, controle do mercado e competitividade internacional das empresas dessa indústria. Depende também das instituições de políticas cultural e industrial voltadas para a indústria audiovisual.
No caso brasileiro, não cabe dúvida sobre a força e originalidade de sua matriz cultural. Apesar disso, existem dramáticas diferenças nas oportunidades e possibilidades que se abrem para os vários segmentos da indústria de produtos audiovisuais. A televisão apresenta plenas condições artísticas, técnicas e econômicas de se posicionar na vanguarda mundial. No setor cinematográfico as dificuldades são particularmente agudas devido à dimensão dos desafios econômicos e às deficiências institucionais das políticas públicas para esse segmento.
Apesar da sua indiscutível importância do ponto de vista cultural e de sua longa história no país, o cinema brasileiro carateriza-se do ponto de vista econômico como um indústria artesanal e fragmentada, carente de bases comerciais sólidas e, sobretudo, incapaz de subsistir sem forte apoio governamental. A interrupção desse apoio, no início da década de 1990, levou o setor praticamente à falência. Com o retorno dos incentivos governamentais, houve um florescimento da atividade cinematográfica.
- Lazer, cultura e diversão
O consumo de produtos
audiovisuais, definido como o tempo dedicado á contemplação de filmes, vídeos e
programas de televisão pode ser visto como atividade cultural ou como diversão
(entertainement). As implicações de política econômica e cultural derivadas de
cada uma dessas perspectivas são bastante diversas.
Visto como diversão, o tempo
dedicado ao consumo dos audiovisuais constituiria uma decisão cuja motivação e
implicações seriam – em essência – similares àquelas que se observam no consumo
de qualquer outro bem econômico. Assim, ir ao cinema ver um filme não seria
essencialmente diferente de ir a uma sorveteria tomar um sorvete ou ir ao
engraxate para lustrar o sapato, pois nos três casos o indivíduo decide fazer
uso do seu tempo e dos outros recursos necessários para obter um prazer ou
benefício do qual se apropria.
Da perspectiva normativa, o
importante é que os custos e os benefícios da decisão de assistir um filme
seriam apropriados pelo espectador privadamente. Em princípio, portanto, o
consumo dos produtos audiovisuais poderia e deveria ser determinado pelas
preferencias que os indivíduos demonstram em suas decisões no mercado, não se
justificando qualquer intervenção ou restrição governamental a essas decisões.
Essa concepção economicista,
individualista e cosmpolita está na base da visão norte-americana do cinema
como diversão. O dictum em Hollywood é: "moviemaking is show business: no
business, no show." As implicações e conseqüências dessa concepção são
sentidas muito além das fronteiras dos EUA, na medida em que constituem o
fundamento das políticas e práticas de comércio exterior norte-americana no que
se refere aos produtos audiovisuais em geral.
Em contraposição, a concepção
européia – metáfora que, na verdade, engloba concepções que fundamentam
políticas cinematográficas na grande maioria dos países como Canadá, Austrália
e Brasil, entre outros – vê o cinema como atividade essencialmente cultural.
Nessa concepção, a decisão de dedicar tempo ao consumo de audiovisuais tem
conseqüências que são típicas do consumo de bens públicos. Isso porque a
contemplação de um filme ou de qualquer outro produto audiovisual,
possibilitando ao espectador aumentar seu cabedal de informações, amplia sua
capacidade de análise e discernimento dos problemas com o quais se defronta,
seja na condição de indivíduo ou de cidadão, trazendo portanto retornos
produtivos para a toda a sociedade.
Da perspectiva econômica, o
elemento distintivo do consumo dos produtos audiovisuais como atividade
cultural é a ocorrência desses benefícios à sociedade que, não sendo
apropriados pelo espectador, não se refletem no preço que ele se dispõe a pagar
pelo consumo. Trata-se, nesse sentido, de um benefício externo à transação de
mercado (ou uma externalidade positiva) cuja ocorrência implica que as decisões
do consumidor individual não garantem a igualdade entre custos e benefícios
sociais do consumo. Caracteriza-se, portanto, uma falha do mercado enquanto
mecanismo de alocação que justificaria a intervenção do governo para estimular
o consumo desses bens.
Complementando essa concepção,
outra hipótese amplamente aceita é que o efeito de um filme ou qualquer outro
produto audiovisual sobre capacidade decisão do espectador é maior quando o
mesmo contém e transmite mais e melhores informações sobre sua realidade
imediata. O produto audiovisual que suscita e possibilita ao espectador refletir
sobre sua própria realidade e identidade seria mais eficaz e efetivo para
ampliar sua capacidade de decisão e, portanto, traria maiores benefícios para o
espectador e para a sociedade.
Da perspectiva política, o
audiovisual cujo objeto ou temática é a nação ou país do espectador ocupa
posição privilegiada, pois é de se esperar que contribua para a formação de uma
identidade nacional e, consequentemente, para reduzir os custos sociais das
decisões coletivas. Destaca-se, além disso, a necessidade da produção doméstica
de filmes, pois é natural supor que o interesse e a capacidade de tratamento de
temas nacionais se demonstre, sobretudo, nos filmes produzidos domesticamente.
Portanto, para além dos
benefícios privados, o consumo e também a produção doméstica de produtos
audiovisuais sobre temas nacionais trariam benefícios à sociedade que não
necessariamente estariam refletidos nos preços que o espectador paga pelo
consumo desses produtos. Essa externalidade positiva justificaria os incentivos
ao consumo e também á produção doméstica de produtos audiovisuais.
Implícita ou explicitamente, a
caracterização do consumo de produtos audiovisuais como uma atividade cultural
nos moldes acima é o rationale básico das políticas de incentivos tanto ao
consumo como à produção doméstica de filmes e audiovisuais postas em prática
pela grande maioria dos governos nacionais e inclusive locais. De fato, o
protecionismo, nas mais diversas formas, tem sido a tônica das políticas
cinematográficas de países tão diversos como França, Brasil e Canadá.
Essa concepção do consumo de
audiovisuais como atividade cultural traz, contudo, implicações nem sempre
adequadamente avaliadas. Note-se, antes de mais nada, que as externalidades positivas se dão sobretudo no consumo, não na
produção. Na verdade, a produção de cultura se dá simultaneamente ao ato
consumo, ou seja, só quando o espectador assiste ao audiovisual é que este se
torna um bem cultural.
A implicação básica desta constatação é que os incentivos às atividades
audiovisuais deveriam ter como objetivo prioritário o consumo e não a produção
de audiovisuais. Antes que o valor da produção ou o valor agregado nessas
atividades, o que interessa incentivar é a quantidade consumida de audiovisuais
medida pelo número de espectadores, tempo dedicado a essa atividade, ou
qualquer outra dimensão relevante.
Na avaliação das políticas de
incentivos às atividades audiovisuais enquanto
atividades culturais, o consumo deve ser também a dimensão privilegiada. A produção é atividade meramente
instrumental para a realização do consumo. Em termos efetivos, antes que o
número de produtos audiovisuais ou filmes nacionais produzidos interessa o
número de espectadores ou o número de horas ao consumo desses produtos. Essa
deve ser a dimensão utilizada na avaliação da eficácia ou benefício dos
incentivos, ou seja o numerador da relação benefício/custo.
Há a necessidade de se
conhecer os determinantes da demanda
por produtos audiovisuais para avaliar as possibilidades das políticas
setoriais:
- Fatores que determinam o
número de espectadores e o tempo que eles dedicam ao consumo de audiovisual;
- Como se faz a escolha entre
os audiovisuais e estrangeiros;
- Qual a sensibilidade dessas
escolhas a fatores como preços e outras características dos produtos, bem como
aos condicionantes sócio-econômicos e culturais dos consumidores, são alguns
dos aspectos que
Demanda por cinema
Seja como cultura ou diversão,
para a maioria da humanidade, o consumo dos produto audiovisuais – filmes,
vídeos, jogos e programas de televisão – é uma atividade de lazer que, dada a escassez
do tempo, compete com o tempo dedicado às atividades produtivas, ou seja, com o
tempo requerido pelo ganha pão das pessoas.
- Considerações analíticas
Em termos microeconômicos, o
tempo que um indivíduo dedica ao consumo de um produto audiovisual – as horas
dedicadas ao cinema ou á televisão – dependem do preço que ele paga, ou mais
rigorosamente, do custo (por unidade de tempo) que ele incorre nessa atividade;
depende também do preço dos demais bens ou serviços que ele consome, da sua
renda, educação, além de várias outras características sócio-econômicas como
idade, sexo, profissão, entre outras.
O preço que o consumidor paga
pelos produtos audiovisuais inclui os custos diretos (preço do ingresso de
cinema, do aluguel do vídeo, a subscrição do canal a cabo, gastos com
eletricidade e depreciação dos aparelhos, etc.) e indiretos (gastos com
transporte para ir ao cinema, estacionamento, baby-sitter para os filhos, etc.)
que o espectador é obrigado a incorrer para se dedicar a essa forma de lazer.
Além disso, nos custos indiretos inclui-se o custo de oportunidade, ou seja, o
montante de renda que o espectador deixa de ganhar em cada unidade de tempo
dedicada ao consumo audiovisual – isto é sua taxa de salário/hora – que
depende, entre outras coisas, da flexibilidade que ele possui na alocação de
seu tempo produtivo, bem como da flexibilidade de horários no consumo do
audiovisual.
Alguns produtos audiovisuais –
ir ao cinema, assistir filmes ou novelas na televisão - são substitutos
próximos, ou seja, suprem as mesmas necessidades afetivas ou cognitivas dos
indivíduos. Isso implica que a demanda por esses produtos deve ser fortemente afetada
pela disponibilidade e custos do consumo desses substitutos.
De forma mais rigorosa, o que
o indivíduo consome é o serviço propiciado pelo uso do produto audiovisual, ou
seja, a vivência das experiências afetivas ou cognitivas propiciada por
sequências de imagens e sons geradas pelo uso do produto. Em certa medida, a
não ser pelas diferenças de custos dos serviços, o consumidor é indiferente
entre veículos ou "janelas" – (televisão ou cinema) ou produtos
(filme ou novela) utilizados para obter esse serviço. Nesse sentido, pode-se
especular que o grau de substituição entre produtos audiovisuais depende, em
grande parte, do grau de educação do indivíduo. Mais especificamente, quanto
menos educado ele for, mais as diversas janelas e produtos audiovisuais serão
substituíveis.
As implicações dessa hipótese
podem ser da maior importância para análise do caso brasileiro. Isso porque,
dado o nível educacional e sócio-econômico da população, a necessidade de se
vivenciar experiências dramáticas sobre a realidade circundante é quase
exclusivamente suprida pelas novelas de TV que, em termos de custos incorridos
pelo espectador, são bem mais baratas que os filmes nacionais. A carência de
telas, os custos de transportes e das atividades de baby-sitter (mesmo quando exercidas
por parentes) são aspectos fundamentais nesse sentido.
Em termos macroeconômico, ou
seja, agregando-se os indivíduos da sociedade, os principais fatores
subjacentes à demanda por lazer e produtos audiovisuais enquanto tal incluiriam
renda per capita; a estrutura educacional e etária da população cujos efeitos
se fazem sentir nas preferências da população pelos diversos tipos específicos
de janelas e produtos audiovisuais, bem como na distribuição de salários e
renda do país; as instituições do mercado de trabalho que condicionam os graus
de liberdade na escolha de lazer dos indivíduos; além dos fatores conjunturais
refletidos, por exemplo, nas taxas de desemprego da economia.